No livro A teologia da igreja, Ebenézer Ferreira cita trecho de uma tese do Júlio Borges em que este conta uma parábola do teólogo Kierkegaard.
Um circo pegou fogo, numa pequena cidade dinamarquesa. Os artistas já estavam preparados para o espetáculo, e o dono do circo enviou o palhaço à cidade para avisar a população. O palhaço foi e gritava "Gente, o circo pegou fogo! Venham ajudar a apagar o fogo porque a cidade pode ser atingida!".
O povo se admirou da nova técnica de publicidade e todos pensavam em ir ao espetáculo, porque o palhaço valia a pena. O palhaço chorava e gritava, e todos riam. Diz, então, Kierkegaard: "O fogo espalhou-se pelos campos e atingiu a cidade, que foi completamente destruída". Concluiu o Pr. Júlio: "Quantas vezes temos vestido roupa de palhaço e, como camelôs, oferecemos o evangelho como mercadoria barata, e ninguém nos leva a sério!".
Um palhaço é um palhaço e não pode ser levado a sério. Mas uma igreja é uma igreja e precisa ser levada a sério. Ela o será, não na medida em que se curve ou amolde ao mundo, para agradá-lo, mas na medida em que viva a mensagem que deve pregar ao mundo. A igreja não é um clube social regido por conveniências. Sua vida deve ser enquadrada na Palavra de Deus.
Quando houve o evento chamado Rock in Rio, muitos evangélicos o criticaram, vendo nele ação do demônio! Não nego que há apelos demoníacos em certas músicas. Não apenas num determinado estilo, mas em muitos. Mas não é disto que quero falar. Ficou-me uma declaração do empresário que organizava o evento: "Esses evangélicos são engraçados!". É que muitos jovens evangélicos iam ao evento (e coisas semelhantes ao Rock in Rio acontecem em congressos de jovens evangélicos) e, o pior, os cartazes convidando para o show foram impressos numa gráfica evangélica. O demoníaco era uma boa oportunidade comercial para os santos.
Por vezes a visão da igreja é buscar adeptos e não convertidos. Ela pesquisa o que a vizinhança deseja, e lhe oferece o produto desejado. Chamam a isso de "igreja amiga do povo". É verdade que a igreja primitiva caía na graça do povo (Atos 2.47). Mas mais importante que ser "amiga do povo" é ser, como Abraão, "amigo de Deus" ("e ele foi chamado amigo de Deus" - Tiago 2.23).
O evangelho tem sido domesticado pelo romantismo das pessoas. Tempos atrás, conversava eu com uma senhora, crente há muitos anos. Tinha ela um filho incrédulo renitente, que não ligava a mínima para realidades espirituais, e até mesmo as depreciava. Para ela, seu filhinho, mesmo recusando Jesus como Salvador, estava salvo (ela sentia isso no coração) porque não era possível que um rapaz tão bonito, tão saudável, filho tão bom, não fosse salvo. A teologia da irmã apontava numa direção e sua vontade em outra. A vontade prevaleceu sobre a teologia.
O evangelho não pode ser domesticado e a igreja não pode amoldar sua pregação e seu ensino às conveniências e vontades humanas. Tal evangelho não é sério. A igreja não precisa aculturar-se ao mundo. Precisa apenas viver o evangelho. O mundo pode ser agradado por um tipo de pregação, mas a ameaça real, a ameaça do juízo de Deus nunca soará aos seus ouvidos como séria se for levada por alguém que se preocupe em agradar.
Sem ser rabugenta, a igreja precisa ser séria. E para ser levada a séria deve compatibilizar a mensagem que deve entregar ao mundo com sua aparência. Que a igreja seja um profeta e não um palhaço.
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