ESTAR VIVO É ESTAR INCOMPLETO
Brennan Manning
A honestidade é mercadoria tão preciosa que é raramente encontrada no mundo da igreja. A honestidade exige a sinceridade de admitir os apegos e as dependências que controlam nossa atenção, dominam a nossa consciência e agem como falsos deuses. Posso ser tão viciado em vodka quanto em agradar os outros, tanto em maconha quanto em ser amado, tanto em jogo quanto em relacionamentos, Tanto em futebol quanto em fofoca. Minha dependência pode ser de comida, atuação, dinheiro, popularidade, poder, vingança, leitura, televisão, tabaco, peso ou sucesso. Quando damos a qualquer coisa mais prioridade do que damos a Deus, cometemos idolatria. Portanto, todos cometemos idolatria incontáveis vezes ao dia.
Uma vez que aceitamos o evangelho da graça e buscamos nos livrarmos dos mecanismos de defesa e dos subterfúgios, a honestidade torna-se ao mesmo tempo mais difícil e mais importante. Agora a honestidade envolve a disposição de enfrentarmos a verdade respeito do que somos, não importando quão ameaçadoras ou desagradáveis nossas percepções possam ser. Significa perseverar conosco e com Deus, discernindo nossos truques mentais pela experiência de como eles nos derrotam, reconhecendo nossas fugas, admitindo nossos lapsos, aprendendo de forma completa que não somos capazes de lidar conosco. Esse resoluto auto-confronto requer força e coragem. Não podemos usar o fracasso como desculpa para deixar de tentar.
Sem honestidade pessoal posso com facilidade criar uma imagem bastante impressionante de mim mesmo. A complacência tomará então o lugar do deleite de Deus. Muitos de nós não querem a verdade a respeito de nós mesmos; preferimos ter nossa virtude reafirmada, como mostra a seguinte ilustração:
Um dia um pregador disse a um amigo:
- Acabamos de ter o maior avivamento que nossa igreja experimentou em muitos anos.
- Quantos novos membros vocês acrescentaram ao rol? perguntou ele.
- Nenhum. Perdemos quinhentos.
Estar vivo é estar incompleto. E estar incompleto é carecer da graça. A honestidade nos mantém em contato com nossa carência e com a verdade de que somos pecadores salvos. Há uma belíssima transparência nos discípulos honestos que nunca usam uma máscara e não fingem ser nada além do que são.
Quando um homem ou mulher são verdadeiramente honestos (e não estão ainda apenas trabalhando nesse sentido), é virtualmente impossível insultá-los pessoalmente. Não resta nada ali para insultar. Aqueles de nós que estamos verdadeiramente prontos para o reino somos pessoas desse tipo. Sua pobreza de espírito interior e sua rigorosa honestidade os libertaram. São gente que não tinham nada do que se orgulhar.
Houve a mulher pecadora do vilarejo que beijou os pés de Jesus. Houve liberdade em fazer aquilo. Desprezada como prostituta, ela aceitou, diante do Senhor, a verdade da sua flagrante condição de nada. Ela não tinha coisa alguma a perder. Ela amou muito porque muito lhe havia sido perdoado.
O assim chamado Bom Ladrão era terrorista que reconhecia receber recompensa justa pelos seus crimes. Ele também não tinha nada do que se orgulhar.
O Bom Samaritano, escolhido como modelo da compaixão cristã, era desprezado como herege de miscigenada ascendência pagã e judaica. Ele já era tão impuro que, ao contrário do sacerdote e do levita que passaram de largo com suas aureolas apertadas, podia dar-se ao luxo de expressar seu amor pelo homem ferido deixado ali para morrer.
Ser honesto conosco não nos torna inaceitáveis para Deus. A honestidade não nos distancia de Deus, mas nos leva de arrasto para Ele - como nenhuma outra coisa consegue fazer - deixa-nos abertos de forma renovada para o fluir da graça. Embora Jesus chame cada um de nós para uma vida mais perfeita, não somos capazes de fazê-lo por nossos próprios esforços. Estar vivo é estar incompleto, estar incompleto é carecer da graça. É através da graça apenas que qualquer um de nós pode ousar esperar tornar-se mais como Cristo.
O pecador salvo de auréola torta foi convertido da desconfiança para a confiança, alcançou uma pobreza interna de espírito, e vive o melhor que pode em rigorosa honestidade para consigo mesmo, com os outros e com Deus.
A pergunta colocada pelo evangelho da graça é apenas esta: quem nos separará do amor de Cristo? Do que você tem medo?
Você tem medo que sua fraqueza possa separá-lo do amor de Cristo? Ela não pode.
Você tem medo que suas inadequações possam separá-lo do amor de Cristo? Elas não podem.
Você tem medo que sua pobreza interior possa separá-lo do amor de Cristo? Ela não pode.
Casamento difícil, solidão, ansiedade sobre o futuro dos filhos? Não podem.
Baixa auto-estima? Não pode.
Dificuldade econômica, ódio racial, o crime nas ruas? Não podem.
Rejeição pelos queridos ou sofrimento pelos queridos? Não podem.
Perseguição pelas autoridades, ir para a cadeia? Não podem.
Guerra nuclear? Não pode.
Erros, medos, incertezas? Não podem.
O evangelho da graça clama: nada poderá jamais separar você do amor de Deus tornado visível em Cristo Jesus nosso Senhor.
Você deve estar convencido disso, deve confiar nisso e não deve jamais esquecer de lembrar disso. Todo restante passa, mas o amor de Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente. A fé se tornará visão, a esperança se tornará possessão, mas o amor de Jesus Cristo, que é mais forte do que a morte, permanece para sempre. No final, é a única coisa à qual você pode se apegar.
Extraído do Livro: O EVANGELHO MALTRAPILHO, de Brennam Manning
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