O GOSTO AMARGO DA VINGANÇA - série Poesia

Às vezes me pego a perguntar

Porque dizemos que gostamos ou desgostamos de alguma coisa,

Se o que mais procuramos é aquilo que mais nos faz mal...

Por exemplo; todo mundo diz que não gosta das coisas amargas,

No entanto se lambuzam com o amargor da vingança...

A “delicia” que se come fria e bem devagar que é para “aproveitar mais”

Mais se trata de um prato indigesto, amargo e altamente prejudicial a todos nós...

E tudo isto com a “pseud.” ideia de alivio, de realização pessoal e de dever cumprido...

Dizem que lava a alma, traz “paz”, e fortalece os ânimos...

Claro que se trata de uma propaganda enganosa...

Vou dizer por que a vingança é amarga e altamente destrutiva

A desforra da vingança é em primeiro lugar falta de confiança em Deus

É algo que não nos pertence, é tornar próprio algo indevido.

A vingança é uma questão de coração amargo... Sentimento amargo...

Ele diz: “Espere. Vou pegar você!”

Ele é amargo porque nos leva sempre a agir de maneira mesquinha e solitária...

Ele divide e nos separa de tudo e de todos, nos prendendo a um sentimento pobre e contumaz... O já conhecido “ressentimento”...

Que dispensa apresentação, na verdade é um invasor de privacidade.

É amargo porque prejudica completamente a nossa saúde

É como colocar um grão de açúcar em um copo cheio de buscopam e dizer que está uma delícia...

Ele é amargo porque nos custa um preço muito alto no nosso físico e mente...

“O ressentimento mata o insensato” (Jó 5.2).

É amargo porque nunca nos satisfaz, nem tão pouco traz de volta o que perdemos... Ele nunca é suficiente...

É como um chicote que bate no opressor por nossa determinação...

E por um momento isso nos basta, até que outra lembrança virá à tona e outra chicotada será necessária, outro encontro, outra ira... Quando tudo isso termina?

Amargo porque nos separa de Deus, da comunhão, do aceso ao que chamamos de oração.

Nutrir um espírito que não perdoa impede à oração.

Vingança, retaliação, um espírito inclemente, a ausência de tolerância, a falta de um espírito de misericórdia plena e total para com todos que tiverem de qualquer forma ou em qualquer medida nos prejudicado, impede a comunhão com Deus, a oração...

Podemos até orar com ira no nosso coração, mas este tipo de oração torna-se pecado.

Ele é amargo porque nos silencia diante da vida (Ignore-os quando eles falarem.)

Distancia-nos como já disse, ele nos separa (Quando eles vierem em seu caminho, passe para o outro lado.)

Ele nos faz resmungar, praguejar, ironizar (“Oh, vejo que você ainda tem dedos nas mãos. Engraçado você não usá-los para discar meu número”. “Oh, como eu gostaria que...”)

É espantoso o quão criativo podemos ser na desforra. Se eu posso manchar numa noite, frustrar num dia, derrotar numa sexta-feira, então a justiça é feita, e eu “fico satisfeito”.

Por ora. Até eu pensar em você outra vez. Até eu ver você outra vez. Até acontecer algo que me traga à memória o que você fez; então eu exijo outro cheque.

É como um vício de doses amargas que iniciamos bastante inocentemente, indultando com doses de raiva a quem nos feriu.

A ira adormece a ferida, então voltamos para mais uma dosagem; desprezamos não apenas o que ele fez, mas quem ele é.

Insultamo-lo. Humilhamo-lo. Ridicularizamo-lo.

Logo odiamos a ele e a qualquer um como ele.

(“Todos os homens são estúpidos”. “Todos os pregadores são mercenários”. “Não se pode confiar em mulher”.) A progressão é previsível.

A ferida transforma-se em ódio, e o ódio, em fúria; e nós tornamo-nos viciados, incapazes de passar um dia sem intolerância e amargura.

A vingança faz sua atenção prender-se aos momentos mais feios de nossa vida.

Faz seus olhos concentrarem-se em eventos dolorosos de seu passado.

Contar e reviver suas feridas fará de você uma pessoa melhor?

Isso só irá destruí-lo.

A vingança tira Deus da equação. Os que fazem justiça pelas próprias mãos tomam o lugar de Deus.

É como se eu dissesse: -"Não tenho certeza de que o Senhor poderá cuidar disso. O Senhor pode castigar muito pouco ou devagar demais. Deixe esse assunto em minhas mãos, obrigado."

Pare de tomar ou de comer algo indesejável e racionalmente amargo, algo literalmente prejudicial e viva a doçura que Jesus nos deu como vida...

“O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem.. . Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram.

Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos. Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito:

A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.

WAGNER DE SALLES -  MARÇO DE 2011