Jesus e as decepções humanas 3
II. DECEPCIONAMO-NOS COM AS PESSOAS AO NOSSO REDOR
Aquele paralítico esperava ajuda das pessoas que estavam a seu lado, mas isso não ocorreu. Por isso, vemos nas suas palavras um tom rancoroso: “eu não tenho ninguém para me pôr no tanque quando a água se mexe. Cada vez que eu tento entrar, outro doente entra antes de mim”. A frustração desse homem com as pessoas se dá por dois motivos: primeiro, pela falta de amor e solidariedade de seus compatriotas; segundo, pela concorrência intensa que havia na luta desesperada pela bênção.
Não seria esses os motivos que têm deixado tanta gente fracassada atualmente? Muitas vezes, quando mais precisamos das pessoas elas nos decepcionam. Quanto mais perto elas estão de nós, mais elas podem nos frustrar. Vez ou outra, quando precisamos de um apoio moral, o que recebemos é uma lição de moral. Os crentes do nosso lado acham mais fácil imitar os “amigos” de Jó, que esse patriarca propriamente.
Parece que quando temos recursos os “amigos” brotam naturalmente onde estamos, mas, quando caímos em insolvência, ficamos sem os companheiros; foi o que experimentou o filho pródigo. Por vezes, pessoas nas quais confiamos nos traem; até mesmo Jesus não esteve isento dessa desventura. Quantas vezes nos chateamos porque mentiram para nós? E quando nos defrontamos com pessoas que não dão bom testemunho cristão? E quando alguém que tenha alguma espécie de autoridade sobre a nossa vida age injustamente contra nós? Não há como não ficarmos jururus com tudo isso.
Tais frustrações nos acabrunham tanto, que podemos até perder a consciência que o nosso Salvador está diante de nós, como esteve diante do paralítico do tanque Betesda, amorosamente perguntando: “Quer ser curado?”. Ele continua preocupado conosco...; Ele está nos vendo...; Ele não está indiferente às nossas frustrações... Ele não é insensível às nossas necessidades... Ele se identifica conosco. O Senhor não passou por aquele tanque ignorando o paralítico. Foi Ele quem estabeleceu o diálogo com aquele miserável.
III. DECEPCIONAMO-NOS COM A RELIGIÃO
Aquele pobre desgraçado paralítico deveria também estar decepcionado com a Religião. Os religiosos de carteirinha foram acusadas por Jesus de prenderem-se a questões periféricas da crença e desprezarem o que realmente tinha suma importância na Lei: a justiça; a misericórdia; e a fé. Ninguém exercia esse conteúdo essencial da espiritualidade a fim de beneficiar aquele pobre coitado. Quando foi curado, ao invés de renderem ações de graças pela vitória daquele filho de Abraão, murmuraram porque o milagre tinha acontecido no dia de sábado. É gritante o fato de que a religião pela religião é cega, tendenciosa, fanática, venenosa, enfim, frustrante.
Por outro lado, vemos aquele pobre homem confiando na reputação mística do tanque, atitude tipicamente religiosa do homem, que é inerentemente um ser religioso. Era o tanque Betesda uma fonte intermitente, que fluía ocasionalmente em esguichos, para depois cessar; mas o povo dava a isso alguma espécie de significação sobrenatural, como se fora a ação de um anjo. Tanto é que no manuscrito original do Evangelho joanino o versículo quatro do capítulo cinco não aparece. Entretanto, não há qualquer razão para se duvidar de que realmente naquele lugar havia curas genuínas, como ainda atualmente elas existem em alguns “santuários de curas”. Não precisamos nos preocupar se Deus usa ou não usa intermediários espirituais para efetuar essas curas, mas o certo é que elas existem. O problema é que parece que o paralítico estava ali supersticiosamente e nunca recebera sua bênção. Talvez, tenha até piorado psicologicamente, pois a “mexida” na água somente funcionava para alguns outros enfermos, menos para si.
Nós também nos frustramos quando nos apegamos a certas fórmulas espirituais para resolver nossas dificuldades. E pelo fato de agirmos apegando-nos à exterioridade religiosa sem nos apropriarmos do conteúdo essencial das atitudes espirituais que Deus espera de nós.
É comum diante de uma dificuldade alguém aconselhar-nos: “Ah, irmão, leia a Bíblia e ore que tudo vai se resolver”. Isso é falso! Ler a Bíblia e orar mecanicamente não resolve nada! Tais atitudes podem até piorar a situação, se elas nos tornarem frios religiosos. É importantíssimo ler as páginas das Sagradas Escrituras, e orar ao Pai, mas, isso só tem sentido quando mantemos uma comunhão pessoal com o Espírito Santo, pois Ele é uma Pessoa. Jesus não veio trazer religião à Terra! Ele Veio estabelecer relacionamentos. Na verdadeira espiritualidade, não existe “abra-cadabra” ou passes de mágicas, bem como vale salientar que o uso mecânico do nome ou do sangue de Jesus de nada adianta se não fizermos parte da mesma natureza do Senhor Jesus e não formos amigos chegados do Seu Santo Espírito. Quando não vivemos isso, acabamos vivendo religião, e ela acaba nos decepcionando.
Também nos assemelhamos ao paralítico da narrativa quando nos frustramos com a religião à medida que acabamos por estabelecer uma espécie de concorrência com o irmão que está ao nosso lado. Ele resmungou para Jesus: “Cada vez que eu tento entrar, outro doente entra antes de mim”. Cada um dos outros enfermos nos cinco andares daquele tanque era para o pobre paralítico um concorrente da bênção; um rival na luta pelo melhor lugar; um competidor na busca de maior rapidez para se atirar no tanque; e um adversário na busca pelo favoritismo da misericórdia de Deus. Tudo em nome da religião. Em geral, de modo inconsciente assumimos atitudes de disputa no ambiente religioso. Se não nos cuidarmos poderemos ser lançado de cima do “pináculo do templo”. Quando nos deparamos com os fracassos de tais atitudes nos decepcionamos profundamente com o ambiente religioso. E não há nada que mais decepciona o ser humano que a religião vazia de conteúdo espiritual!
Uma outra ilustração que comprova a idéia de que a religião nos frustra é quando damos crédito a pessoas que nos dizem mensagens afirmando serem de Deus e que, na verdade, não são d’Ele. Entretanto, criam expectativas falsas e por fim, acabam nos frustrando. Quantos prejuízos tem causado a crentes ingênuos os falsos pastores, os falsos profetas e as falsas profetizas? Interessante que é “em nome do Senhor”. Nisso, não há nada de espiritualidade, mas sim pura religião misturada com charlatanismo.
O grande antagonismo da desgraça do paralítico de João 5 é o nome do local onde ele jazia: “Betesda”: “Casa de misericórdia”. Que misericórdia ele gozava até Jesus chegar ao tanque? Todavia, O Senhor Jesus resolveu o problema da decepção do paralítico, da mesma maneira com que Ele quer resolver as nossas decepções.
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